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Oi, sou a Diana Conrado! Escritora, Redatora e Colunista do jornal Tudo SE, casada, ribeiraopretana e persistente. Aqui você encontra Resenhas Críticas, Crônicas, Poesias Pensamentos, atualizações sobre meus livros e entrevistas com Escritores #PapodePapel. Tudo isso e muito mais! Para melhor me definir, deixo aqui uma frase de Machado de Assis: "Eu gosto de olhos que sorriem, de gestos que se desculpam, de toques que sabem conversar e de silêncios que se declaram." Sejam bem-vindos!


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Resenha Crítica: Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago

Olá queridos, tudo bem?




Bem, na resenha de hoje conheceremos um pouco do livro  "Ensaio sobre a Cegueira", do escritor lusitano José Saramago. Já lhes adianto que provavelmente, acredito, que não é como as resenhas que vocês estão mais acostumados a verem, tentei ser técnica, porém de modo não enfadonho. Meu objetivo maior é ser sincera, crítica e mostrar o quanto esse livro é necessário para sua gama de leitura.  

Sem enrolação, vem comigo!



Boa leitura!







Avaliação: 🌸🌸🌸🌸🌸

 “O homem é o lobo do próprio homem.” -Thomas Hobbes"

Sinopse

“Um dia normal na cidade, estava um homem dentro do carro esperando o sinal abir, de forma repentina, gritou: “Estou cego”.  Para alguns que o acudiram, o homem define a cegueira como um mar de leite. Um indivíduo se oferece para levá-lo em casa e acaba por rouba-lhe o carro. O ladrão vive um drama por ter roubado um homem cego, entretanto, também fica cego.

A esposa do primeiro cego  leva o primeiro cego ao oftalmologista, que d encontra nenhuma lesão, solicita alguns exames para sustentar um possível diagnóstico sobre esse caso raro, o qual nunca vira. Por fim, o médico oftalmologista também é infectado pela “cegueira branca”, em seguida seus seus pacientes, transformando a cidade num verdadeiro caos.

Por ordem governamental, os “infectados” são internados e abandonados num manicômio, estando condenados a viver as maiores atrocidades que o homem é capaz de cometer para salvar a si mesmo. Porém, a mulher do médico fora a única não acometida pela “cegueira branca”.”

Resenha Crítica

O foco dessa resenha crítica sobre a ficção de Saramago, é propor uma observância na figura do homem pós-moderno que é ilustrado pelo autor neste Ensaio Sobre a Cegueira. Este retrato que traz à tona a ‘teoria da alienação’, erguida por Friedrich Nietzsche.
Aqui também abordaremos os valores que temos conosco e com o próximo e à medida que o tempo passa, vemos a degradação do ser humano que aflora o seu estado animalesco, pensando e agindo a seu favor custe o que custar. Será o homem moderno vestido de palito e gravata, mas pronto para revelar os seus ígneos pensamentos da “caverna”?

A célebre obra Ensaio sobre a cegueira, de 1995, rendeu ao escritor português o único Prêmio Nobel de Literatura a um autor de língua portuguesa. Neste ensaio, Saramago coloca toda a população de um país imaginário (o mesmo do romance de 2004) acometido pela mal-branco. A mulher do médico - como a personagem é conhecida, já que, assim como os outros personagens e a cidade em que as histórias se passam, não receberam nomes próprios - é a única testemunha ocular dos horrores de uma sociedade  tomada pelo caos, sem ordem ou regra, sem governo, que retrocede a um modo de vida tribal.

A moderna sociedade está cada vez mais abduzida dos valores humanos e adstrita ao  materialismo, tornando-se egoísta e mesquinha, visando a sua própria necessidade. O quadro proposto pelo autor português sobre o individual prisma - lança mão do  romance uma recriação da realidade - bem como uma visão de mundo acentuada por juízo de valores - característica puramente ensaística.

O Ensaio vem trazer-nos a ótica de um mundo moderno através de uma “cegueira”, de  uma imagem aterradora e comovente de tempos “sombrios”, contudo, não é uma cegueira qualquer é uma cegueira epidêmica designada por mal-branco, um “mar de leite”.  E é por meio da alienação proposta por Karl Marx na forma de um capitalismo selvagem, dentro do manicômio que os detentores dessa forma de capitalismo selvagem, “os malvados”, onde o autor descreveu como usurpadores, os cegos alienados.

Ao tratarmos de era moderna, discorremos do fruto do pensamento humano em relação aos fatos decorridos do  sistema político, organização de nações  e econômicas ao longo de toda História. A Modernidade tem o seu primórdio histórico entre fins do século XV até os dias atuais. A História do “Tempo” está segmentada em Idade Média, Antiga e Moderna. Um dos eventos que marcam a Modernidade foi a Expansão Marítima Europeia (XV) acompanhada do colonialismo que a sucedeu. E o antigo cenário isolado politicamente e economicamente dominado homogeneamente no religioso e  no intelectual, passa através do comércio e intercâmbios populacionais e culturais ao novo cenário, de onde surgem movimentos religiosos e intelectuais contra a hegemonia opróbrio e opressor da Igreja Católica e da sociedade.vigente. Quebram o monopólio da “verdade” sob tutela da Igreja, os movimentos Humanismo e Reforma Protestante margeando as tais” verdades” constituídas, abrindo assim caminho para o surgimento do Iluminismo. E é destas transformações intelectuais, políticas e econômicas mais o colapso do feudalismo que surge uma nova classe social, a burguesia que ao longo do tempo acumula poder, mas que não tem o poder político nas mãos, o que gera os descontentamentos que marcam as Revoluções na Europa. Tendo como a primeira, a Revolução Inglesa, pondo fim ao Absolutismo, propiciando à burguesia presença e voto no Parlamento em uma Monarquia Constitucional. A segunda a Revolução Francesa, assim como a primeira, que tinha apenas poder econômico. E por último a mais importante, a Revolução Industrial, em medos do século século XVII, dirigida por essa nova burguesia inglesa com poder político passa a fomentar no país transformações econômicas, muda-se o modo de produção Manufaturas para as Indústrias. Aumenta a demanda do produto no mercado, em contrapartida, vem a tona o aumento do desemprego causado pela máquina e a poluição que é causado pelo carvão das caldeiras de vapor. É importante elencar também a jornada de trabalho excessiva de doze horas, mais a  ausência de regras que regulassem o trabalho de mulheres e crianças. Por consequência dessas duas últimas revoluções iniciam-se na Europa movimentos de trabalhadores pleiteando por uma solução a essas díspares prejudiciais a eles. E nesse contexto surge o Movimento Socialista, tendo como Karl Marx e Friedrich Engels, século XIX, os seus comissários  e por colorário dessas ideias em 1917 revolucionários comunistas tomam o poder da Rússia ao derrubar Czar. Após algumas décadas  o mundo dividido em dois grupos, o Capitalista e o Comunista, que perdurou cinquenta anos, conhecida como Guerra Fria. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, surge um novo Movimento, que foi a Revolução Sexual, paralelo aos Movimentos Hippie e Funk, a Guerra do Vietnã, e a descoberta da Pílula Anticoncepcional.

Todas essas sumidades importantes levaram a sociedade moderna a outra margem do rio, dando a ela essa máscara que usamos. Como podemos observar, a Modernidade tem aversão a tradição e ao passado, pois esta sempre em busca de avanços tecnológicos. O homem moderno colocou de lado os valores humanos, passando a preocupar-se com a tecnologia e aparência. Estas grandes transformações só vieram a aperfeiçoar e acentuar a individualidade e interesses primitivos que no mínimo alarde, mostra-se o lobo dentro de si, agindo ardilosamente para sobreviver. 

E através da Literatura podemos acompanhar esse itinerário do mundo e seu desenvolvimento, como Rogel Samuel ensina, em Novo manual da teoria literária“A Literatura faz parte do produto geral do trabalho, da cultura. A cultura de um povo se realiza, em diversos sentidos, nas ciências e nas artes. É um conjunto de fatos e hábitos socialmente herdados, que determina a vida dos indivíduos”.

O Ensaio também denuncia a tênue e a morbidez espiritual do homem. Trata a nova identidade humana condizente com a nossa sociedade atual, com diferenças sociais e morais, violência, egoísmo, chantagem, falta de ética, etc. De acordo com Nietzsche, o homem  construiu uma  história para si mesmo, um novo idealismo, chamado niilismo, que diferente do religioso, ele não quer morrer, mas cria uma nova visão futura, onde tudo será  melhor. É um niilismo cristão-platônico-moderno, que está fundamentando nossa moral e comportamento. Não existe no homem pós-moderno a visão de olhar para o próximo como o seu semelhante, porque não existe visão:

“(...) Tão longe estamos do mundo que não tarde que comecemos a não saber quem somos, nem nos lembramos seque dizer-nos como nos chamamos, e para quê, para que iriam servir-nos os nomes, nenhum cão reconhece outro cão, ou se lhe dá a conhecer, pelo menos que lhes foram postos, é pelo cheiro que identifica e se dá a identificar (...)” (pág. 64).

O idealista  está  mudando o mundo através de sua filosofia já pré-concebida, assim grifa Nietzsche: “O idealista é incorrigível. Se é expulso do seu céu, faz um ideal do seu inferno.” Fantasiando uma concepção sobre a realidade. Tanto no niilismo negativo como o reativo há a desvalorização da vida presente, ou seja, sobre a realidade no presente. Dia após dia. Fomos aprimorados. Olhamos para o próximo com compaixão, apenas  quando sentimos medo de enxergar a nós mesmos, cuja  realidade a que nos rodeia ou estamos, julgamos ser bem pior que à do próximo:

“(...) É desta massa que nós somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade. (pág. 40). Tenho de abrir os olhos, pensou a mulher do médico. (...) Disse a si mesma que ia contar até dez e que no fim da contagem descerraria as pálpebras, duas vezes o disse, duas vezes contou, duas vezes não as abriu. Ouvia a respiração do marido na cama ao lado, o ressonar de alguém, Como estará a perna daquele homem não se tratava de uma compaixão verdadeira, o que queria era fingir outra preocupação, o que queria era não ter de abrir os olhos. Abriram-se no instante seguinte (...) Não estou cega (...)” (pág. 63).

A obra de Saramago nos inclina à grandes questões: Primeiramente, porque a cegueira é branca? Segundo, porque a cegueira não é preta? Terceiro, porque a proliferação da cegueira? Seria um castigo de Deus?

Os primeiros estudos sobre cores foram realizados pelo filósofo Aristóteles, que segundo ele, as cores existiam por meio de raios enviados por Deus. As cores mais simples advinham da terra, ar, fogo, água. Tinha uma visão de que era  baseada em sua concepção de cor, na observação de que a luz do sol, ao atravessar ou refletir em um objeto, tem sua intensidade reduzida, escurece. Essa teoria não foi constatada até à  Renascença, pelos expoentes Aguilonius e Sigfridus Forsius.

A Bíblia narra que Deus que por causa do pecado decidiu-se eliminar a vida da face da Terra, poupando somente Noé e sua família das águas levando a destruição total, no entanto, Deus decidiu que nunca mais acabaria com a Terra através das águas, surgindo o arco-íris como aliança de Seu compromisso, usando a pluralidade de cores para um Acordo.

Assim como Aristóteles, Leonardo da Vinci, entendia que as cores são propriedades do seu objeto, quanto a  cor branca, por sua vez, representante da luz: “A primeira de todas as cores simples é o branco, embora os filósofos não irão aceitar tanto branco como preto como cores porque branco é a causa ou receptor de todas as cores, e o preto é a privação total delas. Mas como os pintores não podem ficar sem ambas, as colocaremos dentre as demais. (…) Podemos colocar o branco como representante da luz sem o qual nenhuma cor pode ser vista, amarelo para a terra, verde para água, azul para o ar, vermelho para o fogo e preto para a escuridão.”

O cientista Isaac Newton em 1672, publicou um trabalho onde apresentava ideias sobre as cores do corpo e através  de um  frugal experimento, percebeu a dispersão da luz branca, ou seja, conseguiu visualizar que se a mesma refletisse sobre a mesmo prisma de vidro, dava origem a inúmeras outras cores.

A cor tem uma série de implicações na psicologia, pois a percepção da cor causa uma série de sensações. O ser humano assimila  a cor através do sentido da visão, que por sua vez, é a mais veloz de todos outros sentidos a conduzir informações ao cérebro que  processa todas essas informações.

No ocidente a cor branca está associada a pureza, bondade, virgindade e a inocuidade. É definida como a cor da luz que reflete todos os raios luminosos, não absorvendo nenhum e por isso aparecendo como clareza máxima. Já a cor preta está associada ao luto, elegância, solidez, poder, modernidade, sofisticação, formalidade, morte, medo, anonimato, raiva, mistério, azar.  É percebida quando algo absorve inteiramente toda luz que a atinge.


Desde o inicio da história do homem, as cores faziam parte mais da necessidade psicológica  do que das estéticas, como por exemplo, na cultura egípcia que tinha a cor como um intenso sentido psicológico, simbolizando cada cor. Sobre a visão, a cor exerce  três ações: a do impressionar a retina, a de provocar uma reação e a de construir uma linguagem própria e comunicar uma ideia, com valor de símbolo e capacidade.

Portanto, se o branco e o preto não são cores, mas a presença ou ausência de luz, podemos entender que a cegueira epidêmica do mal-branco que se diz no livro seria uma cegueira nos olhos da consciência, não a cegueira física, pois como sabemos a  cegueira física é negra, porque falta-lhe à luz. Da mesma maneira que, quando fechamo-nos as pálpebras, enxergamos trevas. E se branco é a luz que carrega  uma cortina de cores e preto é a falta de luz sem a cortina de cores, estão ali ainda, em nosso subconsciente à ordem do qual a chamamos-lhe de ensinamento: Amar o seu próximo como a si mesmo.

O problema e a solução está no principal órgão, o cérebro. Qual comando dar a este cérebro para que o neocórtex processe uma linguagem e consciência limpa ou penerada deste mau-caráter histórico e social atuante. A cada nascimento de uma criança são lhe posto uma nova identidade concebida do materialismo com sua  ética, valores e morais já concebidos de significados, e que vai sobressaltar naquele que possuir maiores bens e poder:

“A lembrança tinha caído da cabeça do próprio ministro (...) Enquanto não se apurassem as causas, ou, para empregar uma linguagem adequada, a etiologia do mau-branco, (...), a malsonante cegueira passaria a ser designada, (...) e quiçá uma vacina que prevenisse (...), todas as pessoas que cegaram, e também as que com elas estivessem (...), seriam recolhidas e isoladas, de modo a evitarem-se ulteriores contágios, (...) se multiplicariam mais ou menos segundo matematicamente (...). ‘Quo erat demonstrandum’, concluiu o ministro. Em palavras ao alcance todas aquelas pessoas, segundo antiga prática, herdada dos tempos da cólera e da febre-amarela, (...), tinham de ao largo durante quarenta, até ver. Estas mesmas palavras, Até ver, intencionais pelo tom, mas sibilinas por lhe faltarem outras, foram pronunciadas pelo ministro, que mais tarde precisou o seu pensamento, Queria dizer que tanto poderão ser quarenta dias como quarenta semanas, ou quarenta meses, ou quarenta anos, o que é preciso é que não saiam de lá.” (pág. 46)

Mas onde fica a moral e ética?  Como sabemos o conceito de moral e ética, embora diferentes, frequentemente são usados como sinônimos:” (...) a etimologia dos termos é semelhante: moral vem do latim mos, moris, que significa “costume” , “maneira de se comportar regulada pelo uso” , e de “moralis, morale, adjetivo referente ao que é “relativo aos costumes”. Ética vem do grego ethos, que tem o mesmo significado de “costume” (Filosofando Introdução à Filosofia, cap. 23, Introdução à filosofia moral, pág. 301, 2. A moral)

 Assim vemos que a moral e a ética no caráter histórico e social, dessa nova identidade, não é nada menos que o costume. O conjunto de regras que determinam o comportamento do indivíduos é a moral, que por sua vez é o costume. Mas de onde vem este costume? Por quem foi implantado este costume? Um costume que à todo momento pensa só em si. Podemos pensar que desde quando o homem é homem, já existia  o individualismo e o egoísmo. Mas não foi  era moderna que o transformou neste homem mesquinho? Também. Só que hoje ele aprimorou o seu ritual egocentrista, juntando numa única encomenda, teocentrismo + antropocentrismo = homem o seu próprio deus vs ele mesmo; lobo homem + medo+ falta espiritualidade + cegueira.

Mas qual o conceito mais comum da ‘cegueira’? Podemos afirmar que é tão somente a falta de percepção visual, oriunda de fatores psicológicos ou neurológicos. Muitos cientistas, em suas buscas por um conhecimento mais aprofundado, resolveram criar escalas com o objetivo de descrever a extensão da perda de visão e, assim, moldar uma definição da cegueira. A completa falta de percepção visual de forma e luz pode ser considerada a maior característica da Cegueira Total.

Ainda que, a visão seja uma característica crucial à percepção da realidade, a cegueira também têm os seus caminhos de “criação dessa realidade”, revela formas e cor, consegue transformar do retrato vazio em imagens e lembranças.  Um dos grandes influentes pensadores do século XVIII, Immanuel Kant, trouxe uma visão “de que  a imagem que construímos  no mundo a nossa volta não se baseia apenas no que existe, mas também do que nós criamos mentalmente.

Os olhos sãos as janelas da alma. Muita coisa errada tem entrado por essas janelas, causando a cegueira na sociedade:

“Estou cego”, afirma desesperadamente o motorista paralisado em frente ao semáforo (pág. 12). Mas o que ele “vê”, se assim se pode afirmar, não é a treva, mas uma brancura infinita. “Sim, entrou-me um mar de leite”, diz o cego (pág. 14). É uma cegueira incompreensível, repentina e sem explicações. Os que veem não podem acreditar que o cego assim se encontra. Mesmo o médico, especialista nas coisas da visão humana, não descobre a causa da doença. “Os olhos do homem parece sãos, a íris apresenta-se nítida, luminosa, a esclerótica branca, compacta como porcelana” (pág. 12).

Podemos assim dizer que essa “cegueira branca” é uma alegoria sobre a deficiência visual politica e social diante as mazelas circundantes. O homem está alienado ao individualismo e ao consumismo,vivendo fora da realidade, tem olho, mas não tem visão. Assim grifou o teórico de finança comportamental Daniel Kahneman: "Somos cegos a nossa própria cegueira." Vivem nesse ambiente “natural”, saciando a “cegueira” com prazeres hedonistas, pois só assim, são capazes de se sentirem seguros. Diante das incertezas e inseguranças, sente medo:

“O medo cega, disse a rapariga dos óculos escuros, São palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegamos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos” (pág. 131).

Mas o medo também gera necessidade, e é sob o medo e a necessidade que os homens e mulheres internados e cegos e submetem ao grupo que passa a controlar a comida. Desta forma acontece na realidade, mesmo em situações de normalidade democrática o medo é utilizado como instrumento de persuasão.

Ou ainda, podemos assim dizer que a “treva branca”, seria uma forma de contrapor a ideia de “luz” que leva a perdição ou decadência. Em que temos uma despojar da cegueira representada pelo conceito de brancura, onde o branco, que por muitas vezes, representante da “luz”, que inúmeras vezes é análogo da ideia de salvação. E é essa “luz” que vai guiar a humanidade a viver no âmago de sua animalidade, em um isolamento,  uma inaptidão e um desprezo. E assim, diz o filósofo: ““o verme pisado encolhe-se. Atitude inteligente. Com isso reduz a probabilidade de ser pisado de novo. Na linguagem da moral: humildade” (Nietzsche, 1996, pág.22)

Porque só a mulher do médico não foi contaminada por essa cegueira? Pois, representa a luz dos que não veem.  Há pessoas que conseguem enxergar “além do bem e do mal”.


“Eu sou os olhos do cego. E a cegueira da visão.
Raul Seixas


E ainda há aqueles, como os “malvados”, que mesmo num estado de calamidade, o fetichismo pelo dinheiro continua latente, marcando o pós-moderno com suas atrocidades, pois mesmo cegos continuam contaminados pela fome material, desalienados de qualquer valor moral.

“Estavam as coisas neste ponto quando veio a ordem dos malvados para que lhes fossem entregues mais dinheiro e objetos valiosos, porquanto, consideravam eles, a comida  fornecida já havia ultrapassado o valor do pagamento inicial, (...) Passada uma semana, os cegos malvados mandaram recado de que queria mulheres. (...) O primeiro cego começara por declarar que sua mulher não se sujeitaria à vergonha. (...) Primeiro eu (...), diziam todos. (...) A mulher do médico ajoelhou-se. (...), ou bato-te, e não levas comida, disse ele, (...)" (pág. 177)


Conclusão


As perspectivas da obra sugerem uma inversão a diversos conceitos abordados, justificando as controversas da inserção do conceito niilismo na arena contemporânea, cuja “transvalorização” refletem os cegos corrompidos do autor. O pensamento pode ser traduzido na ruptura dos valores morais, de um declínio de uma civilização, validado no imediatismo social e na introspecção genérica.

Diante de tudo que aqui foi exposto, é evidente que interpretar a obra Ensaio Sobre a Cegueira, nos provoca várias hipóteses e continuará nos provocando, pois não acredito que possamos esgotar a fonte das tentativas para definir a ‘cegueira humana’, pois esta se transmuta a cada ideia defendida. A cegueira imaginada por Saramago era branca tal qual a cor do leite. E a sua? Qual a cor da sua cegueira?





Referências Biográficas:


SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. 1ª ed. 39ª. reimpressão, São Paulo: Companhia Das Letras, 1995.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando Introdução à Filosofia. 3ª ed. revista, pág. 301,302,303,304,São Paulo: Moderna, 2003.





























Diana Conrado, nascida em Ribeirão Preto em 20 de dezembro de 1987, dedica-se ao Senhor através do seu louvor desde os 3 anos. Aos 10 anos, integrou o grupo de louvor de jovens e, posteriormente, tornou-se a primeira tecladista de uma nova congregação no bairro Jardim Juliana, onde a pequena igreja foi fundamental na salvação de mais de 24 jovens. Com seu primeiro livro, "Os Segredos de José: Do Poço ao Sucesso", lançado em 2021, Diana marca um ponto de virada em sua carreira espiritual, testemunhando sobre milagres e oferecendo um guia para mudanças significativas. Atualmente, trabalha em "Disse Sim, e Agora?", destinado a futuras noivas e esposas. Mantendo seu blog, oferece não apenas conteúdo religioso, mas também entrevistas, resenhas e poesias. Com formação em Letras, psicopedagogia e Psicanálise, além de estudos em Jornalismo, Diana continua seu serviço ao reino.

Comentários

  1. Nossa muito boa esta resenha, na verdade foi uma aula, é a primeira resenha que leio que sai fora dos parâmetros da obra e se infiltra em seus mais profundos questionamentos, o porque da cegueira ser branca? realmente eu já tinha me perguntado mas como não li o livro até o final , não pude identificar esta cegueira de alienação, no homem na sociedade, e sua construção do conceito que vem com o inicio do livro e adentra a história humana, pois é disto que se trata o livro , até voltar novamente em seu desfecho por assim dizer foi sensacional!muito edificante, e muito bom saber que temos ainda pessoas que não estão cegas, pelo contrário enxergam além , compreendem o que Aldoux huxley dizia em que" viveríamos em uma prisão sem grades, um sistema onde graças ao consumo e o divertimento , os escravos teriam amor á sua escravidão", cegos , alienados, em uma cegueira branca que deveria trazer a luz , os torna mais cegos devido a sua falta de moral e capacidade ética de discernimento,até porque o progresso vale mais do que vidas, que nada mais são do que números em estatísticas.

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