Pegaram-me com cuidado e ponharam-me numa caixa de sapato,
No começo era folgado e macio, havia muito calor humano,
Os meus dias tinham poesias, gaitas e os importantes mandarins,
Ah, como me tratavam bem e discutíamos sobre o Amor,
Em banquetes escrevemos muita filosofia, mas só em mim que não fluía.
Da cortina escarlate em glória, usaram os meus dons musicais,
E eu pela ilusória luz me deixei guiar pelo pensamento pueril,
Quem me dera já contar muitas anos, talvez não me serviria do banquete,
Malditos são os meus olhos, da terra corrupta desejava o pão e o mel,
Cobiçaram o inalcançável, neste estado de plebeu e hoje como deste mal,
Como doem os meus pés, cheios de feridas, apertados e sem carinho,
Os meus dias sem poesias e instrumentos trocados por falsas pratarias ,
Como pude mendigar a paixão do amante, pois jamais passaria das cortinas,
Bem sabia, bem sabia! Os cães me cantavam os maus dias que dali eu viveria,
Num quadrado, num quadrado, de um caixa para aqui, são as celas do meu fim…
Diana Conrado
01-04-16
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